Dor crônica no Ayurveda

Você já ouviu falar em dor crônica? Sabe o que é isso? Conhece alguém que sofre com dor crônica? Então vamos entender um pouco sobre o assunto e o que o Ayurveda diz sobre isso.

O que é dor crônica?

Segundo a IASP – International Association for the Study of Pain, a dor pode ser entendida como uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial. Ela pode ser considerada aguda ou crônica, dependendo do seu tempo de duração, sendo a dor crônica aquela que persiste por mais de três meses.

Costumamos pensar em dor apenas como um sintoma, mas a dor crônica é caracterizada como uma doença e é considerada um problema de saúde pública.

Pela sua própria definição podemos ver que a dor, principalmente a crônica, nem sempre tem relação com alguma lesão tecidual, ou seja, nem sempre a pessoa que sente dor consegue ter um diagnóstico de lesão em algum tecido através de um exame de imagem. 

Já ouviu aquele caso que a pessoa sente muita dor, fez muitos exames de imagem e nenhum detectou nada de diferente? Então…

Dor crônica x emocional

A dor crônica frequentemente está associada a problemas emocionais, como ansiedade e depressão. Esta relação entre emocional e dor crônica gera um ciclo vicioso, onde a piora da dor tende a piorar as questões emocionais e esta piora por sua vez tende a afetar negativamente o quadro de dor. 

Fatores cognitivos e emocionais têm papel muito importante na percepção de dor. Estudos mostram que o estado de atenção, emoções positivas e negativas tem capacidade de alterar as vias de dor, ou seja, suas emoções influenciam muito como você percebe e sente a sua dor.

A dor crônica muitas vezes também está associada a outros sintomas, como fadiga, sono não reparador, distúrbios de humor e até alterações cognitivas.

Dor crônica x insônia

Além da relação entre dor crônica e emocional, a dor crônica também apresenta muita relação com a insônia. 

Alguns estudos observaram que existe uma relação entre menor tempo de sono e maior frequência nas queixas de dores.

Assim, podemos ver a influência do tempo e qualidade do sono nas condições dolorosas crônicas.

E assim como vimos nas questões emocionais, a relação entre sono e dor crônica também pode ser tornar um ciclo vicioso, onde a piora de um tem efeito negativo sobre o outro.

Visão da dor crônica no Ayurveda

Quando pensamos em dor, pensamos no desequilíbrio do dosha Vata. 

Este dosha quando está agravado, também pode gerar alterações emocionais como ansiedade, preocupação excessiva, medo e insônia. 

Vocês perceberam que todos estes desequilíbrios que o agravamento de Vata causa são situações relacionadas e encontradas em pessoas com dor crônica, como citei no começo do texto?

Pois é…bem-vinda(o) às maravilhas do Ayurveda. Ou seja, há mais de 5 mil anos eles já viam relação entre emocional, dor e sono, mas esta relação é relativamente nova para nós. 

Claro que o Ayurveda avalia de uma maneira diferente, pois em uma avaliação ayurvédica nos direcionamos de acordo com o dosha que está em desequilíbrio e sabemos que os doshas atuam na mente e no corpo.

Desta forma, quando equilibramos um ou mais doshas em um tratamento não atuamos apenas no componente físico, mas também no componente emocional.

Na avaliação também é importante avaliarmos os outros doshas. Por exemplo, se a pessoa que sofre de dor está apresentando inflamação nas articulações, pensamos em agravamento do dosha Pitta.

Por isso é importante entender qual ou quais doshas estão em desequilíbrio para que o tratamento seja direcionado corretamente.

O que fazer?

Como o dosha Vata é o que mais nos chama atenção em casos de dores crônicas, devemos pensar em uma rotina e alimentação voltados para pacificar este dosha:

• mantenha uma regularidade nos horários das refeições;
• tente manter também esta regularidade para dormir e acordar;
• mantenha uma alimentação baseada em legumes e vegetais frescos, de preferência sempre bem cozidos;
• evite alimento crus, secos e congelados;
• evite alimentos processados e industrializados;
• prefira alimentos quentes e untuosos;
• pratique alguma atividade física mais leve;
• yoga, meditação e pranayamas podem te ajudar muito.

Mas claro que o tratamento será direcionado para o desequilíbrio que o terapeuta encontrará em você. 

Fitoterapia 

No Ayurveda utilizamos muito a fitoterapia como aliada no tratamento.

Dentre as ervas que podemos utilizar, podemos citar o gengibre, a cúrcuma e a ashwagandha.

O gengibre tem uma importante ação anti-inflamatória, anti-reumática e analgésica, sendo muito utilizado no tratamento de artrites, artralgias e dores musculares.

A cúrcuma ou açafrão tem diversos benefícios e dentre eles podemos citar seu poder anti-inflamatório, antimicrobiano, cicatrizante e altamente antioxidante, apresentando efeito muito positivo em estados artríticos.

A ashwagandha é um importante e famoso tônico e rejuvenescedor muito utilizado no Ayurveda. Podemos encontrar alguns estudos sobre o uso desta planta em casos de dor, principalmente em casos de osteoartrite e artrite reumatóide e os resultados são muito positivos, com redução das queixas dos pacientes que a utilizaram no tratamento. 

Mas sempre lembrem que o ideal é que a fitoterapia seja indicada e acompanhada por um terapeuta.

Conclusão

Podemos ver que a dor crônica é muito mais do que um sintoma. Sua complexidade nos mostra a importância de um acompanhamento multiprofissional, com profissionais especializados.

Vimos também a importância da avaliação e acompanhamento da parte emocional e psicológica, devido sua influência no manejo da dor crônica.

O Ayurveda como uma terapia complementar e integrativa possibilita um olhar e atuação integral sobre o paciente através do restabelecimento do equilíbrio do sistema tridosha, que por sua vez tem influência direta no corpo físico, mental e emocional. 

Orientações sobre mudanças de estilo de vida e alimentação, associada a terapias corporais e uso da fitoterapia fazem parte do tratamento ayurvédico.

E é sempre bom relembrar que os remédios auxiliam no tratamento, mas não são eles que te trarão mais qualidade de vida. Isso só será possível com uma mudança no seu estilo de vida e você se responsabilizando pela sua própria saúde.